Resenha Auto da Compadecida

545 palavras 3 páginas
Auto da Compadecida

O livro Auto da Compadecida de Ariano Suassuna mistura elementos da cultura popular com autos medievais e com a literatura de cordel, se aproximando mais à espetáculos de circo e tradição popular do que à teatros modernos. Idealizada para ser representada, a obra utiliza, na escrita, traços orais com regionalismo, evidenciando o cenário nordestino. Os personagens da obra são simbólicos, representam mais do que indivíduos, estruturas sociais. Desta forma, fica fácil reconhecer a peça como uma crítica social, que satiriza costumes, tradições, religiões, bem como as dificuldades e a cultura da sociedade nordestina. A crítica religiosa é um elemento muito presente em toda a obra. Desde o início, na primeira fala do personagem Palhaço já se pode perceber a inferência da falta de moralidade religiosa: “Auto da Compadecida! O julgamento de alguns canalhas, entre os quais um sacristão, um padre e um bispo, para exercício da moralidade” (SUASSUNA, 1975, 2). Tem-se o Palhaço como representação do próprio autor, que, ao escrever a peça, abordou a problemática do mundanismo de sua igreja. Desta forma, ele reconhece que sua alma é cheia de insensatez e de lábia, como a de qualquer homem. No cenário de personagens religiosos temos o padre João, o Sacristão e o bispo. O primeiro só está preocupado em conseguir dinheiro para sua aposentadoria; o segundo e o terceiro, cheios de solércia e má intenção, ajudam a completar o quadro da igreja corrompida que Suassuna pintou em sua obra.
O protagonista de todas as peripécias é João Grilo, um homem magro e pobre que depende de sua astúcia para sobreviver. Em várias críticas literárias, João Grilo é frequentemente comparado com Macunaíma, personagem de Mario de Andrade, porém, ao contrario deste, João trabalha duro e ajuda seu amigo Chicó, e suas travessuras são justificáveis por sua extrema pobreza. Chicó é o típico contador de histórias. O mentiroso puro que cria causos para satisfazer suas vontades.

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