Representacao Palavras
E IDÉIAS*
Hanna Fenichel Pitkin
As palavras e o mundo mudam juntos, mas não em simples correlação direta. Quando imaginamos a introdução de uma palavra nova, tendemos a pensar em exemplos tais como o explorador dando nome a um local recémdescoberto, ou o químico preparando uma substância recém-descoberta ou recém-criada. Mas esses exemplos são profundamente enganosos, pois a maioria das palavras não são nomes; e os seres humanos podem, com a mesma facilidade, discursar sobre o que existe e o que não existe.
No campo dos fenômenos sociais, culturais e políticos, a relação entre as palavras e o mundo é ainda mais complexa, pois esses fenômenos são constituídos pela conduta humana, que é profundamente formada pelo que as pessoas pensam e dizem, por palavras. Então, para compreender
* Originalmente “Representation”, publicado em Terence Ball; James Farr; Russell
Hanson (orgs.). Political innovation and conceptual change. Cambridge, Cambridge
University Press, 1989. Agradecemos a autora pela gentil permissão de publicar este texto em Lua Nova, e Cambridge University Press pela cessão dos direitos. E somos gratos à generosa disposição de Wagner Pralon Mancuso e Pablo Ortellado, professores da Escola de Artes e Humanidades da USP, de traduzir o original.
Representação: palavras, instituições e idéias
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como as palavras e o mundo mudam juntos, deve-se olhar e ver casos particulares, para tomar emprestada uma famosa expressão de Wittgenstein (1968: § 66).
O conceito de representação é um caso instrutivo porque seu significado é altamente complexo e, desde muito cedo na história dessa família de palavras, tem sido altamente abstrato. É, assim, um corretivo útil para nossas fantasias sobre exploradores e químicos. A representação é, em grande medida, um fenômeno cultural e político, um fenômeno humano. Desse modo, o “mapa semântico” das palavras inglesas da família “represent-” não corresponde bem ao “mapa semântico” de termos