Renaturalização
Ao longo da história das civilizações, grandes rios e pequenos córregos foram cruciais para o estabelecimento de assentamentos humanos. Como fontes de água doce em condições de potabilidade, supriam diversas necessidades essenciais para a vida cotidiana, como a dessedentação de pessoas e animais, a pesca e a irrigação de alimentos, higiene, disposição e escoamento de resíduos. Mesmo a industrialização não teria sido possível sem uma fonte contínua de água com baixa salinidade e corrosividade. A baixa dinâmica das águas proporcionava um meio de transporte, lazer e recreação para as comunidades que se desenvolviam ao longo dos rios, e a cultura dos povos também esteve sempre associada à água, com diversas manifestações artísticas, religiosas e simbólicas refletindo a relação das pessoas com esse componente essencial à vida.
Muitas das grandes cidades da Europa foram construídas sobre as margens e várzeas de grandes rios de importância regional, como o Danúbio e o Reno que atravessam e integram diversos países. Ao longo de séculos, suas várzeas foram sendo
ocupadas
pela
urbanização,
e
seus
diversos
leitos
anastomosados, fundidos em um só, com a completa descaracterização do ecossistema ribeirinho.
O Brasil não é exceção a essa condição. Britto & Silva (2006) observam que poucos dos 250 rios existentes na cidade do Rio de Janeiro ainda são visíveis.
“O processo de ocupação urbana da cidade fez com que a maior parte deles fosse canalizada e coberta, desaparecendo da paisagem visível e, aos poucos, da memória dos habitantes do Rio de Janeiro” (BRITTO & SILVA, 2006). Esse fato é evidenciado pelos mesmos problemas em cidades como São Paulo, onde as águas do rio Tietê teimam em reclamar o espaço que lhes foi tirado, ou
Belo Horizonte, onde o ribeirão Arrudas transborda periodicamente, e tantas outras a citar.
Observam-se então as situações pendulares e cíclicas – “cidades invadindo as águas, e águas