Religião
O interesse pelo estudo sistemático da religião, entre os povos ágrafos, teve incremento em meados do século passado. Etnógrafos e etnólogos constataram, de imediato, que o fenômeno religioso é universal. Seria demasiado longo citar todos os autores e sua concordância unânime quanto a esse ponto. Citamos um, apenas, com seu depoimento, que, porém, retrata a idéia de todos, sejam do século transato, sejam de nosso tempo.
“Nenhuma sociedade foi vista com ausência de idéias e atos supernaturalísticos. Nenhuma careceu de crenças em almas e seres espirituais ou concepções de uma pós-vida” (Norbeck, 1964, apud Tax, p. 214).
MARTIN GUSINDE, SHEBESTA, WILHELM SCHMIDT, FRANZ BOAS, TURCHI, AUGUST BRUNNER, HENRI DE LA BOULAYE, FRANZ KÖNIG, e outros, da atual centúria, confirmam o que foi citado.
Verdade é que, no século dezenove, houve afirmações de que, por exemplo, os Fueguinos, na Terra do Fogo, não tinham religião alguma. Tal asserto, porém, não passou de rotundo e crasso erro. Por quê? Pelo fato de a permanência entre eles, por parte de quem os observara, não ter sido suficientemente longa, para detectar o fenômeno religião, e pelo fato de não lhes haver sido conhecida a língua. São dois fatores de importância para o estudo de qualquer aspecto cultural, mormente da religião.
A relação do homem com o transcendente, seja qual for a maneira de sua manifestação, é verificável em todos os povos do globo.
Deixando de parte aspectos etimológicos da palavra, isto é, se “religio” provém de religare, religari ou reeligere, vamos à essência de seu significado. A religião pode ser definida como relação do ser humano ao fundamento de sua própria natureza, existência e sentido. Subjaz, evidentemente, a essa definição um pressuposto filosófico de que não carecem os primitivos. Constitui, a religião, um elo existencial com um ser “estranho” ao mundo, um ser “santo”, um ser não apenas diferente, mas na maioria dos casos, “outro”. Dizemos não ser apenas