reinos da africa
Mali e Songai (sécs. VII-XVI) - Segunda Parte
Ricardo da Costa (Ufes)
IV. Civilizações negras ao sul do Saara (1): a Terra dos Maqzara e o reino de Tekrur
21. Feira livre em Atar (cidade a oeste da Mauritânia)
No extremo oeste da África setentrional, entre os atuais países de Mali e da
Mauritânia, ao longo do rio Níger até mais a oeste, na escarpa do Tagant, com limite ao sul nos rios Senegal e Bakoy, desenvolveram-se as primeiras civilizações negras conhecidas: os Maqzara, o reino de Tekrur, e os famosos Impérios de Gana
(Wagadu), ou o “Império do Ouro”, como ficou sendo chamado, e o de Songai (ou de Gao). Essas culturas negras que giravam em torno do Baixo Senegal (nome de toda essa região) foram o resultado de um desenvolvimento autóctone bastante recuado (e de natureza pagão-animista), iniciado provavelmente na era cristã, aliado ao avanço berbere-islâmico em direção ao sul do Saara no século IX.
Essa expansão berbere havia se dirigido tanto no leste ao sul do Egito, para obter o controle das minas de ouro do Sudão, quanto no oeste ao sul de Magreb, e aqui no Baixo Senegal a expansão basicamente tivera como motivação o desejo de dominar as rotas cada vez mais desenvolvidas dos tráficos de ouro, de sal e de escravos, este último um tráfico que nunca parou de crescer desde então até meados do século XIX (KI-ZERBO, s/d: 130). O tráfico de escravos – escravos que eram utilizados em sua maior parte no serviço doméstico ou como soldados – acontecia tanto no sentido do sul para o norte do Saara quanto o inverso.
(DAVIDSON, 1992: 146.)
Apesar das dificuldades naturais de se atravessar o deserto, muitas caravanas de muçulmanos cruzavam o Saara a oeste para comerciarem escravos, sal, cavalos e metais (ouro e cobre) com as populações negras. Os berberes também compravam dos negros marfim, peles de animais, plumas de avestruz e sementes de cola (com cafeína); em troca, traziam cobre,