Reflexões sobre o lugar do documentário
Mariana Baltar
Mestre em Comunicação, Imagem e Informação (UFF)
Doutoranda em Comunicação (UFF)
Professora do Curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá
"Um conjunto real e verdadeiro é uma doença das nossas idéias".
Fernando Pessoa
A força da questão do documentário reside em uma certa ânsia de realidade, construída e alimentada historicamente, que nos faz caçar provas, explicações, ciência. No universo do cinema, essa ânsia traduz uma discussão encampada por teorias realistas que formaram a reflexão e a prática do "novo" meio que surgia a partir da segunda metade do século XIX.
A imagem reprodutível mecanicamente traria a marca do rastro, da luz e da concretude material de uma realidade que esteve lá, frente à captação, para ser apreendida, retida; tal como o isso-foi de Barthes de A Câmara Clara, o imponderável do duplo e da conquista do tempo.
A marca da realidade emanaria das características físicas e tecnológicas da imagem mecânica; as imagens da fotografia e do cinema: "são descobertas que satisfazem definitivamente, por sua própria essência, a obsessão de realismo" (BAZIN, 1991:21). Satisfazendo a ânsia de real, a imagem reprodutível constituiria a realidade como a matéria-prima do cinema e o realismo como a articulação de uma linguagem mais cinematográfica. Ou pelo menos, essa era a defesa de muitos dos primeiros teóricos do cinema, entre os anos 30, 40 e 50. Nesse panorama de reflexão, o documentário era pensado a partir de sua aderência com a realidade, construindo para esse gênero expectativas de representação do real que ainda hoje parecem ressoar no público.
Por volta dos anos 60, quando o pensamento semiótico abraça o cinema, influenciando fortemente a teoria cinematográfica desde o ensaio de Christian Metz, Cinema: língua ou linguagem, o documentário acaba sendo apagado como questão. Ficção e documentário são tratados como sistemas de signos, composições de relações entre significantes e