Reflexão
—Comeu o suficiente? —perguntou-lhe ele.
Ela sorriu e deu uns tapinhas de leve na barriga.
—Não agüento comer mais.
—Comeu o bolo da vovó?
—Um pedação!
Joe olhou para sua mãe, que estava no outro lado da mesa.
—Parece que estamos todos satisfeitos. Não poderemos fazer mais nada esta noite a não ser ir para a cama.
Madeline pôs suas pequenas mãozinhas nos lados do rosto de seu pai.
—Mas papai, hoje é véspera de Natal. Disse que poderíamos dançar.
Joe fingiu não se lembrar.
—Disse isso? Não lembro de haver dito nada sobre dançar.
A vovó sorriu e passou a mão pela cabeça da menina enquanto começava a recolher as coisas da mesa.
—Mas papai — rogou Madeline —, nós sempre dançamos na véspera de Natal. Só você e eu, lembra?
Um sorriso se desenhou sob o grosso bigode do pai.
—É claro que lembro, querida. Como poderia esquecer?
E dizendo isso, ficou em pé, tomou a mãozinha dela na sua e, por um momento, só por um momento, sua esposa estava viva de novo e os dois entravam no quartinho para passar juntos outra véspera de Natal como outras tantas que tinham passado, dançando até a madrugada.
Teriam podido dançar o resto de suas vidas, mas veio a inesperada gravidez e as complicações. Madeline sobreviveu, mas sua mãe não. E Joe, o rude açougueiro de Minnesota, ficou sozinho para criar Madeline.
—Vêm papai — lhe disse, puxando-o pela mão —. Dancemos antes de que cheguem.
Ela tinha razão. Logo soaria a campainha da porta e os familiares encheriam a casa e a noite seria já algo do passado.
Mas por enquanto, só estavam papai e Madeline.
A rebeldia atacou o mundo de Joe como uma tempestade de neve a Minnesota.
Quando já tinha idade suficiente para dirigir um automóvel, Madeline decidiu que era suficiente adulta para dirigir sua própria vida. E essa vida não incluía seu pai.
«Devia ter imaginado», diria Joe mais tarde, «mas por minha vida que não o fiz». Não soubera o que fazer. Não sabia como lidar