Reflexao sobre a linguagem
434 palavras
2 páginas
Reflexão sobre a língua Em essência, para a consciência individual, a linguagem (...) coloca-se nos limites do território de outrem. A palavra da língua é uma palavra semi-alheia. Ela só se torna “própria” quando o falante a povoa com sua intenção, com seu acento, quando a domina através do discurso, torna-a familiar com a sua orientação semântica e expressiva. Até o momento em que foi apropriado, o discurso não se encontra em uma língua neutra e impessoal (pois não é do dicionário que ele é tomado pelo falante), ele está nos lábios de outrem, nos contextos de outrem e a serviço das intenções de outrem: e é lá que é preciso que ele seja isolado e feito próprio. Nem todos os discursos se prestam de maneira igualmente fácil a esta assimilação e a apropriação: muitos resistem firmemente, outros permanecem alheios, soam de maneira estranha na boca do falante que se apossou deles, não podem ser assimilados por seu contexto e escapam dele; é como se eles, fora da vontade do falante, fossem colocados “entre aspas”. A linguagem não é um meio neutro que se torne fácil e livremente a propriedade intencional do falante, ela está povoada ou superpovoada de intenções de outrem. Dominá-la, submetê-la às próprias intenções e acentos é um processo difícil e complexo.
(Mikhail Bakhtin. Questões de literatura e de estética, p. 100)
ATIVIDADE
Vamos começar nosso estudo com uma tentativa de definição do que seja esse misterioso atributo que todos nós temos de um modo bastante completo desde os dois anos de idade: uma língua humana. Considerando apenas a fala observe os exemplos seguintes:
1. Cara, eu conheço ele desdos tempos do colégio! A gente vai aumoçá sempre junto. Você já tinha visto ele?
2. O senhor me desculpe, mas eu não a vejo desde aquela época remota. Não obstante, poderíamos tentar um contato.
3. O senhô vai armoçá gorinha mesmo? Eu ponhei a chave bem debaxo do tapetinho. Despois nóis vorta.
4. Vós poderíeis dizer-me que estou equivocado.