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Léa Freitas Perez
A formação histórica do Brasil - sua descoberta e sua colonização - se situa num contexto de profunda e irreversível mudança no cenário mundial: o advento da modernidade é uma ruptura e um começo. A economia europeia se abre a novos horizontes, as inovações tecnológicas transformam o ciclo de vida. A expansão territorial dá à organização do espaço uma nova configuração em escala global. Dois novos espaços são criados: o dos impérios coloniais europeus e o das colônias africanas, asiáticas e americanas. A escala planetária é posta em ato, unificando os quatro cantos do mundo. A Europa se abre para o mundo e se lança ao mar. A terra se torna efetivamente redonda e o mundo, moderno. Para a Europa em ebulição a descoberta de um novo mundo além do Equador tem um valor paradigmático. Ela marca o começo da era moderna e as reviravoltas em curso: « esse tempo tão novo e a nenhum outro parecido »1. A configuração urbana brasileira é contemporânea desse processo e, ainda mais particularmente, ela é tributária do desenvolvimento do capitalismo comercial europeu. A descoberta e a colonização do Brasil se inserem, portanto, nos quadros da formação do mundo moderno, num contexto em que as relações da economia urbana e o processo de urbanização ultrapassam as fronteiras das nações para assumirem um caráter internacional2. O novo mundo - e o Brasil em particular - serve de « retaguarda rural aos mercados urbanos europeus » e, assim, de estímulo ao processo de urbanização da Europa moderna. Todos os princípios de orientação da política colonial portuguesa foram condicionados pelo ritmo e pelo movimento dos mercados internacionais. No espírito da colonização, o elemento dinâmico do sistema eram os mercados metropolitanos, as colônias - zonas especializadas na produção agrícola - eram e deviam se manter hinterlands 3. A economia política