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FREUD S. Conferências Introdutórias sobre Psicanálise. Parte III. Teoria Geral das Neuroses (1917[1916-1917]). Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
SENHORAS E SENHORES:
Antes de empreendemos qualquer outro avanço em nossa compreensão das neuroses, necessitamos de algumas observações novas. Aqui estão duas, ambas muito notáveis; quando de sua descoberta, causaram muito surpresa. Nossas conferências realizadas no ano passado certamente os prepararam para ambas.
Em primeiro lugar, então, quando assumimos a tarefa de recuperar um paciente para a saúde, aliviá-lo dos sintomas de sua doença, ele nos enfrenta com uma resistência intensa e persistente, que se prolonga por toda a duração do tratamento. Este é um fato tão estranho que não podemos esperar que as pessoas acreditem muito nele. A este respeito é melhor nada dizer aos parentes dos pacientes, pois eles, invariavelmente, consideram-no desculpa de nossa parte para o prolongamento ou fracasso de nosso tratamento. O paciente, também, apresenta todos os fenômenos desta resistência, sem reconhecê-la como tal, e, se pudermos induzi-lo a adotar nossa opinião a respeito dela e a contar com a existência da mesma, isto já se pode considerar como grande êxito. Pensem apenas nisto: O paciente, que tanto sofre com os seus sintomas e tanto sofrimento causa àqueles que convivem com ele, que está disposto a enfrentar tantos sacrifícios em tempo, dinheiro, esforço e autodisciplina, a fim de se libertar desses sintomas — temos de acreditar que esse mesmo paciente empreende uma luta no interesse da sua doença, contra a pessoa que o está ajudando. Como deve parecer improvável esta afirmação! E, no entanto, é verdadeira; e quando sua improbabilidade nos é apontada, podemos somente responder que essa situação também tem analogias. Uma pessoa que vai ao dentista, por causa de uma dor de dente insuportável, assim mesmo procurará