Raízes do Brasil
Raízes do Brasil – Sergio Buarque
Dois princípios que se combatem e regulam diversamente as atividades dos homens. Do aventureiro e do trabalhador.
O aventureiro ignora fronteiras, são ambiciosos, sabe transformar obstáculos em trampolim, vive de espaços ilimitados, de horizontes distantes. Seu ideal é colher o fruto sem plantar a arvore. Estabilidade, paz, segurança pessoal, esforços sem perspectivas que são características dos trabalhadores são desprezíveis pelos aventureiros. O trabalhador é aquele que enxerga a dificuldade a vencer, tira máximo proveito do insignificante. Seu campo visual é restrito. Só atribuirá valor moral positivo as ações que sente animo de praticar e terá como imorais e detestáveis as características do aventureiro: audácia, instabilidade, imprevidência, entre outros. Nem o aventureiro nem o trabalhador em estado puro possuem existência real fora do mundo das ideias, mas os dois conceitos ajudam a situar e a ordenar nosso conhecimento sobre os homens e dos conjuntos sociais. Na obra de conquista e descoberta de novos mundos, coube ao trabalhador um papel limitado, quase nulo.
O português no Brasil veio buscar riqueza, mas uma riqueza que custava ousadia e não uma riqueza que custava trabalho. Desta maneira, o trabalho era efetuado pelas mãos e pés negros. Os portugueses não instauraram no Brasil uma civilização tipicamente agrícola, pois não consistia um gênio aventureiro, havia uma escassez de população do reino para que houvesse uma emigração em larga escala de trabalhadores rurais e por a atividade agrícola não ocupar posição de grandeza em Portugal. As descobertas marítimas e as conquistas em guerras eram mais atraentes aos portugueses.
É importante ressaltar a dificuldade para o arado no Brasil já que tinha muita vegetação de floresta e a produção de cana necessitava de um espaço limpo. Era usada a técnica de mudar de sítio, assim como faziam os índios. O território brasileiro impunha o uso de maus métodos