RAZÕES DOS HERÓIS NA TRAGÉDIA “ANTÍGONA”, DE SÓFOCLES.
João Gabriel Cardoso de Mello
O que faz da Monalisa, de Leonardo Da Vinci, a obra que é? Serão os traços do artista, as cores usadas, a beleza do quadro? Talvez a possibilidade de surpreender-se a cada olhar que se lança ao retrato? Entende-se que a última hipótese parece mais verossímil. Tanto é que existem outras obras que trazem o mesmo esmero e técnica apurada da qual compartilhava o multifacetário artista italiano; no entanto, não são tratadas da mesma maneira. Isto somente é possível pelo fato do artista de Florença oferecer, em uma mesma pincelada, inúmeros espantos, interpretações, elevações. Deste modo, pode-se dizer que o que faz do retrato de uma bela moça uma obra aclamada e cultuada é a arte, ou seja, a capacidade de transcender a barreira da linguagem e adentrar ao campo do sentimento. Isto porque a arte não é falada, ela não se transmite como mero discurso, ela é sentida, é vivida; ela arrepia. O arrepio a forma de expressão da arte, o arrepio que é indescritível, isto é, a vivência e o sentimento que são experienciados, não falados. Para se entender melhor, basta tentar descrever um poema – para se ater a um tipo de arte feita através das palavras – e perceber-se-á que a palavra não o define e que a poesia transcende a literalidade, isto é, que o poema se traduz não pelos seus significados, mas sim por seus significantes2, pela lágrima sincera e pelo sorriso verdadeiro.
É neste diapasão, também, que a tragédia grega é vista, a saber, como uma expressão artística que possibilita, ao final, a reverberação de seus significantes para além do palco, do livro, et cetera. A tragédia, como arte, consegue demonstrar uma situação de tal sorte que o cidadão, após entrar em contato com a obra, consegue revivê-la por meio de sua interpretação e elevar-se por meio da catarse3,4 por ela proporcionada. Em outras palavras, é através dos momentos de forte tensão e atitudes heróicas – por muitas vezes