Racismo
Por Tainá Ribeiro Piton em 20/11/2012 na edição 721 Definitivamente, não é de hoje a ausência de negros em papéis de grande importância na televisão brasileira. A trama O direito de nascer, exibida entre 1964 e 1965, tinha como uma das personagens principais Mamãe Dolores, interpretada pela atriz Isaura Bruno que, por ser negra, despertou uma grande euforia nos atores negros da época, esperançosos de que aquela seria sua hora de ter seu devido lugar na televisão brasileira. Estavam enganados. Além da absurda técnica do blackface, recorrente nas décadas de 1960 e 1970 (o caso mais clássico é o da telenovela A Cabana do Pai Tomás), algumas tramas buscaram retratar a escravidão no Brasil, mas transmitiam a ideia de que a abolição da escravatura foi um feito dos brancos. Esses e outros momentos históricos para a compreensão da situação do negro na TV brasileira podem ser conferidos no documentário A negação do Brasil.
Muito tempo se passou depois desses fatos relatados, mas a situação pouco mudou. O negro continua sendo enquadrado, na maioria das vezes, no estereótipo de subalterno: em papéis de época, como motoristas, empregados domésticos, porteiros e até mesmo criminosos. Dificilmente o negro chega perto do papel principal, apesar dos avanços pontuais protagonizados por, entre outros, a atriz Taís Araújo, nos últimos anos.
A verdade, no entanto, é que a televisão vive uma contradição, pois afirma que os brasileiros precisam se identificar na trama a que assistem com os personagens, mas ignora o fato de que mais da metade da população brasileira é negra. Essa situação de exclusão da população afrodescendente fica bem clara nas telenovelas, telejornais (nos quais se vê uma minoria negra), nos reality shows e até mesmo nos programas de humor. Nesse caso específico, temos o programa Zorra Total, da Rede Globo, como um exemplo a não ser seguido.