Racismo
Texto de autoria de Dante Moreira Leite – do livro Formação do Cárater Nacional Brasileiro
Embora em certos momentos possam reunir-se, racismo e nacionalismo são conceitos independentes, pois o primeiro apresenta — mesmo quando deformado ideologicamente — um conteúdo biológico, enquanto o segundo tem conteúdo histórico, cultural e político. De um ponto de vista rigorosamente nacional, isto é, que procure englobar toda a população, o conceito de raça é destrutivo, dadas as evidentes diferenças raciais existentes em todos os países. De forma que o racismo, antes de ser uma ideologia para justificar a conquista de outros povos, foi muitas vezes uma forma de justificar diferenças entre classes e castas. Segundo Hans Kohn14, é em Aristóteles que devemos ver a primeira expressão de racismo para justificar diferenças entre classes: para Aristóteles, algumas raças estavam destinadas à escravidão, outras ao governo. E, para Kohn, embora com justificativas teoricamente menos elegantes, a mesma doutrina pode ser encontrada sempre que um grupo racial domine outro — tal como ocorria no sistema de castas da índia. Esse mesmo princípio pode ser observado na segunda metade do século XIX e início do século XX — período que foi a época áurea do racismo. Otto Klineberg15 lembra que Lapouge julgava ter encontrado diferenças entre os crânios retirados de um cemitério de classes mais elevadas e os obtidos no cemitério de classes inferiores . A partir dessas diferenças entre medidas dos crânios Lapouge distinguiu o Homo europeu, e o Homo alpino: o primeiro seria o nórdico, destinado a dominar; o segundo seria destinado a trabalhar e a obedecer. Mas é na figura central do racismo do século XIX — o conde de Gobineau.6 — que se encontra mais nitidamente a identificação entre classe social e raça. Se acompanhamos E. Cassirer17, vemos que Gobineau pertencia à nobreza decadente da França e que seu livro era uma tentativa de demonstrar a superioridade de sua