Os homens seriam fundamentalmente iguais ou existem padrões que hierarquizam a humanidade entre seres inferiores e superiores? E qual seriam os critérios utilizados para tal classificação? Esses questionamentos, posto pelo próprio Homem desde os primórdios da vida em coletividade, parece acompanhar a História de todas as civilizações. Talvez não seja incorreto afirmar que as respostas dadas a essas perguntas formaram a base a partir da qual se desenvolveram as primeiras sociedades, o motivo pelo qual os homens se associarem e perpetuaram tal associação. A maioria dos pensadores antigos e atuais que se arriscaram a apontar a origem das primeiras sociedades humanas parecem está de acordo nesse ponto: um sentimento de igualdade animou os homens primevos a se unirem, e quase que imediatamente o domínio de alguns poucos sobre os demais tornou possível a continuidade dessa união. Assim, através de um ponto de vista sociológico podemos ver a expressão desse fenômeno tanto nas sociedades ditas mecânicas quanto nas sociedades orgânicas.* Em um momento posterior, os autores contratualistas, em busca daquilo que nós historiadores denominamos “mito das origens”, buscaram explicar e por vezes justificar esse fenômeno, através de um suposto contrato primordial em que, através de uma subordinação voluntária, os homens se submeteram a uma ordem superior. É claro que esse “contrato” deve ser visto como uma metáfora, mas não faltaram autores que defenderam a veracidade histórica de tal evento, em uma visão que hoje nos parece ingênua. A questão é que a História é repleta de discursos e interpretações que justificaram o domínio de homens sobre homens. Podemos observar esse fato desde os primórdios da própria História,