Questão social
AméliaCohn
Pobreza, desemprego, violência, trabalho infantil, meninos de rua, seca no sertão nordestino, favelas e criminalidade nos centros metropolitanos são imediatamente identificados pelo senso comum como problemas sociais e, portanto, como uma questão social. Mas não é por acaso que neste país questão social assim como cidadania e cidadão são no geral utilizados de forma ambígua e imprecisa nos mais diferentes textos e contextos. É exatamente esse o eixo que será perseguido no desenvolvimento deste tema tão complexo: sintetizar os vários conteúdos -e suas consequências -que a questão social assume no decorrer deste século, sem a ilusão de que se logre ser menos ambíguo e impreciso, exatamente pela condição a que é confinada de sempre constituir uma área-problema.
Questão social: de problema social a objeto da política
"Questão social", a maior parte das vezes, aparece em nossa vasta literatura referida às nossas mazelas sociais, como sinônimo, portanto de "problemas sociais". Estes, por sua vez, tendem a ser decodificados como expressando um fenômeno social (ou um conjunto de fenômenos sociais) que ultrapassa um determinado nível considerado como "normal" a partir de determinados critérios. E são assim identificados como tal seja por critérios predominantemente éticos -fome, pobreza, trabalho infantil, dentre outros -, seja por critérios predominantemente morais -violência, tráfico e consumo de drogas, devastação do meio ambiente, prostituição infantil, dentre outros. Na essência, no entanto, claro que ambos esses critérios sempre estão referidos à permanência da ordem social vigente, o que na atual conjuntura, é bom que se ressalve, não significa necessariamente assumir um cunho conservador. Haja vista as numerosas e variadas experiências de governos locais no sentido de enfrentar