Quando se escreve à ninguém
1741 palavras
7 páginas
Freud diz, em eu texto "Escritores criativos e devaneios", que os devaneios são como brincadeiras para adultos - um meio de realizar nossos desejos, secretos ou não. Esses devaneios são, dessa forma, saudáveis, ainda que reprimidos pela moral e educação. Sabendo que algumas pessoas tem Necessidade, com N maiúsculo proposital, de expor esses desejos, fica claro que manter diários é um hábito natural - a Necessidade de expor os próprios desejos num meio seguro e não repressor, em oposição à terapia, onde é necessário um outro individuo, que já tem seus próprios preconceitos e ideias, ainda que não possa expressá-los como terapeuta, e a outras formas de arte-terapia, que não seriam tão discretas, como pintura e teatro. O diário uniria, assim, a possibilidade de expressar seus desejos de forma seguramente individual - há se a ideia de interlocutor, de algum leitor ou ouvinte, sem que de fato o haja, e pode-se facilmente carregar um caderno consigo, sem precisar de um espaço ou materiais específicos.
Em "O que é o autor?", de Foucault, entretanto, nos é falado da morte do autor nas obras literárias contemporâneas, à sua não existência - seu desaparecimento pela ausência de 'características individuais do sujeito que escreve' - nos seus escritos. Isso em oposição à textos gregos antigos e "As mil e uma noites", por exemplo, onde a escrita funcionava como meio de alcançar a imortalidade: escrevia-se para garantir a perpetuação da história do herói, fazê-lo conhecido mesmo após sua morte. Acredito que é possível estabelecer um traço entre essas suas correntes e os diários: escreve-se para expressar seus desejos, igualmente anulando a si mesmo, autor, por vergonha e/ou reprimenda moral do desejo, assim como escreve-se para imortalizar seus desejos, como se estar escrito garantisse a validade das palavras, como se escrever tornasse a ficção do diário em realidade.
Voltando ao texto "Escritores criativo e devaneios", por um breve momento e numa quebra textual que será