Quais fatores responsáveis na atualidade por levarem algumas pessoas a viverem na rua
Literatura
Clarice Lispector: Jornalista de Carteirinha
Coletânea reúne parte da vasta produção de Clarice Lispector para a imprensa. São crônicas, reportagens, comentários sobre moda e entrevistas, que revelam uma artista em embate permanente com o mundo e a linguagem. por Oscar Pilagallo Passeia pela Cinelândia “uma senhora já na casa respeitável dos 60, com o número de anos dobrado em banhas estranguladas num cinto flexível de 20 centímetros de largura e de cor de beterraba cozida. A gordura ia pulando em toda a circunferência e a mulher, felicíssima da vida, saltitando, como um periquito na alface”.
O parágrafo bem que poderia pertencer a uma crônica sobre a cena carioca. Poderia também ser excerto de romance ou conto em que o narrador tratasse um personagem com humor ferino. De um jeito ou de outro, estaríamos no campo da literatura. O texto, no entanto, não tem tal propósito. É apenas um artigo descartável com conselhos sobre elegância para as mulheres modernas do início dos anos 50. Assinado por certa Tereza
Quadros e publicado em Comício, fugaz semanário do Rio de Janeiro, nunca teria emergido dos arquivos se por trás do pseudônimo não se escondesse a promissora romancista que, quase dez anos antes, lançara sua primeira Obra Perto do Coração Selvagem, com calorosa acolhida da crítica: Clarice Lispector (1920-1977). Receita para Matar Baratas
É o caso da sua “receita de assassinato” de baratas, objeto de duas colunas muito parecidas, publicadas em 1952 e 1960. O método consiste em colocar gesso numa mistura que, para o inseto, é uma iguaria. “Na manhã seguinte dezenas de baratas duras enfeitarão como estátuas a vossa cozinha, madame”, escreve Clarice. “É uma literatura implacável e deliciosamente perversa”, avalia Gotlib.
Os textos para a imprensa também servem de espaço privilegiado às reflexões sobre a escrita. Em repetidas ocasiões, Clarice Lispector retorna ao tema, com definições complementares sobre seu ofício. Em