Psicose
O tratamento da psicose: impasses iniciais No trabalho clínico com a psicose, torna-se cada vez mais necessário a busca de alternativas que escapem às formas de tratamento que apenas lidam com o paciente psicótico a partir do saber próprio da ciência, reafirmando a posição deste paciente como objeto. No caso específico do trabalho psicanalítico com a psicose, esta clínica teve início com impasses que pareciam ser insuperáveis. As dificuldades do trabalho com pacientes psicóticos levou Freud a contraindicar a psicanálise para esta clientela por várias vezes. Temos, por exemplo, um texto de 1904 – Sobre a psicoterapia – no qual Freud afirma que “as psicoses (...) são impróprias para a psicanálise, ao menos tal como tem sido praticada até o momento” (1904/1996, p.250). O principal motivo levantado por Freud (1915/1996) para tal contraindicação é que na psicose há um abandono das relações objetais. Vemos até mesmo a diferença entre as denominações dos quadros psíquicos dados por Freud: a paranóia e a esquizofrenia seriam neuroses narcísicas, em oposição à histeria e à neurose obsessiva, neuroses de transferência (GUERRA, 2010). A modificação necessária foi tentada por Lacan que, já em seus primeiros passos na psicanálise, se via às voltas com a psicose. O caminho de Lacan (1977/2010) na psicanálise o levou à celebre frase: “a psicose é aquilo frente a qual um analista não deve retroceder em nenhum caso” ( LACAN, 1977/2010, p. 9), pondo fim à questão das contraindicações da psicose, mantendo-se, entretanto, os cuidados para com as entrevistas preliminares.
A primeira clínica lacaniana e a psicose freudiana
Para situarmos o período histórico da teorização lacaniana em questão neste estudo, veja o que propõe Alvarenga (2000) sobre as duas clínicas lacanianas: uma estruturalista, outra borromeana. Estas duas formalizações da clínica lacaniana são importantes