O presente trabalho discute o fenômeno da depressão resgatando uma visão de psicopatologia que destaca a psicanálise, em vez da psiquiatria biológica. Para tanto, fez-se um resgate histórico da influência dos ditames da ciência moderna no paulatino desaparecimento do termo melancolia em função da classificação dos manuais de psiquiatria e, do conhecimento psicopatológico em detrimento da perspectiva organicista. Abordou-se também, a contribuição da psicopatologia psicanalítica da depressão, uma perspectiva cuja atividade diagnóstica não se encerra na classificação, mas enfatiza a dimensão biográfica como imprescindível para a execução da tarefa diagnóstica. Finalmente, conclui- se que é relevante considerar: (1) o tratamento da depressão baseando- se na singularidade do sujeito que apresenta tal quadro e, não somente na sintomatologia; (2) que nem toda manifestação de tristeza é uma manifestação patológica; e, (3) a compreensão da depressão normal enquanto luto, no sentido psicanalítico do termo, que, após um certo lapso de tempo, necessita ser superado e a libido reinvestida em outros objetos. Ao analisar a questão da depressão na psicopatologia, torna-se importante empreender uma retrospectiva sobre o uso da nosografia dos manuais de psiquiatria e compreender de que forma a classificação se estabeleceu como a bússola que hoje orienta as investigações científicas e os discursos atualmente vigentes sobre a depressão. Historicamente, tal fato é conseqüência de um percurso que levou a disciplina de psicopatologia a restringir o diagnóstico dos transtornos psiquiátricos em torno de uma linguagem comum - a da classificação psiquiátrica -, com vistas a alcançar um estatuto de cientificidade, conferindo ênfase ao crescimento da psiquiatria biológica via utilização de medicamentos (Fédida, 2000; Peres, 2003).Assim, pareceu interessante, neste artigo, realizar, num primeiro momento, uma discussão acerca do diagnóstico, já que, nas tendências que influenciaram a