psicologia
O caso do paciente Carlos apresentado por Nise da Silveira contém elementos significativos para o entendimento do tipo intervenção proposta pela psiquiatra.
A expressão verbal do paciente era praticamente ininteligível. As palavras fluíam em abundância, freqüentemente pronunciadas com veemências, mas não se ordenavam em proposições de significação apreensível. O grande número de neologismos tornava ainda mais difícil a compreensão de sua linguagem. O caminho para o entendimento do rapaz fez-se por intermédio do animal. Do relatório da monitoria Elza Tavares, em 10 de março de 1961:
“Carlos chegando perto de um de nossos cães, o Sultão, abaixou-se de cócoras, falou carinhosamente e com nitidez: “Você é muito bonito e valente, tem uma orelhinha cortada, isto é prova de bravura, eu também vou valente, sou nonai. E durante longo tempo acariciou focinho do cão”. Estava decifrado um dos neologismos muito empregados por Carlos: nonai significa valente.
O relacionamento afetivo de Carlos com Sultão foi acompanhado por mim e pelos monitores. O doente durante anos absorvido no seu mundo interno, agora cuidava da alimentação de Sultão, banhava-o, penteava-o. Mas aconteceu o pior na dia 16 de setembro de 1961 Sultão foi morto por envenenamento. Com a perda daquele ponto de referência no mundo externo, investindo de muito afeto Carlos regrediu, tornou-se ainda mais inacessível. Que confiança poderiam merecer os seres humanos?
Só dois anos depois Carlos ligou-se a outro cão: Sertanejo. Os monitores informavam-me que em assuntos referentes aos animais Carlos exprimia-se em frases gramaticalmente construídas. O psicólogo Paulo Roberto relata: “Carlos continua fazendo de Sertanejo seu confidente. Disse-nos que conversa com o Sertanejo como as demais pessoas falam quando conversam ao telefone. Colabora espontaneamente com a monitora. Nazareth na limpeza do local onde dormem os animais e