psicologia
PSICOPATOLOGIA
Rev. Latinoam. Psicop. Fund., II, 4, 159-163
De uma hereditariedade não-fatalista: o “endógeno” e o Typus melancolicus, segundo Tellenbach
Mario Eduardo Costa Pereira
O conceito de “endógeno” é, sem dúvida, um dos mais obscuros e controvertidos da tradição psiquiátrica. Introduzido na medicina por
Moebius, em 1892, o termo provém, na verdade, da botânica, onde já era utilizado por oposição a “exógeno”. Para este célebre neurologista alemão – que mereceu um estudo biográfico escrito pelo próprio Emil Kraepelin – os transtornos endógenos dependiam fundamentalmente de uma predisposição individual1. Outro fatores teriam um papel apenas secundário. Contudo, tal predisposição não era considerada como exclusivamente genética, nem sua manifestação tinha um caráter inexorável.
Dessa forma, “endógeno” remete ao clássico problema da disposição à doença mental. Sabe-se, por exemplo, que a teoria da degenerescência de Morel, desenvolvida a partir de 1840, teve uma importância maior na psiquiatria européia da segunda metade do século
XIX. Sua proposta nosográfica fundava-se em considerações de ordem etiológica. A causa mais importante das doenças mentais seria, segundo ele, a degenerescência hereditária. Em seu famoso Traité des dégénéscences, de 1857, Morel sustenta que a degenerescência
1. Cf. G. Berrios. “Historical aspects of psychoses: 19th century issues”, British Medical
Bulletim, 43 (3), 1987, pp. 484-498.
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ocorreria por um desvio mórbido de um tipo primitivo perfeito da natureza humana: tratava-se de um “desvio mórbido do padrão da espécie”. O homem, criado perfeito por Deus, carregaria em seu patrimônio hereditário a marca de seus próprios desvios, sendo o pecado original o paradigma da degeneração. Essa teoria tinha, portanto, um forte caráter moralizante, uma vez que supunha que à origem