Programa de filosofia para crianças de matthew lipman: uma concepção liberal da educação
SILVEIRA, Renê José Trentin – UNICAMP
GT: Filosofia da Educação / n. 17
Agência Financiadora: Não contou com financiamento.
O presente artigo tem por objetivo demonstrar que o Programa de Filosofia para Crianças, de Matthew Lipman, baseia-se numa concepção liberal da relação entre educação e sociedade, procurando também explicitar e problematizar algumas das possíveis implicações políticas e ideológicas da forma como concebe essa relação. Para tanto, penso não ser necessário discorrer longamente acerca da perspectiva liberal da educação, ou das teorias pedagógicas que ela engendrou em cada momento histórico, visto que isso já foi exaustivamente abordado por diversos autores( Entre eles: SUCHODOLSKI, 1984; MANACORDA, 1989; SAVIANI, 1985; LOPES, 1981; CUNHA, 1979; LIBÂNEO, s/d; SNYDERS, 1977; COELHO, 1989.). Basta, para as pretensões deste trabalho, destacar que tal concepção se caracteriza, fundamentalmente, pela crença no poder da educação de solucionar o problema da marginalidade social sem que para isso seja necessário transformar substancialmente a estrutura social, tida como adequada, justa e necessária. Trata-se, portanto, de uma visão idealista da relação educação e sociedade (a escola redentora da humanidade) que, por não levar em conta os determinantes sociais da educação, acaba favorecendo uma compreensão falseada, ingênua e invertida dessa relação e, desse modo, cumprindo um papel ideológico de legitimação da sociedade de classes. Antes, porém, de empreender tal demonstração, convém esclarecer sumariamente em que consiste, afinal, o programa de Filosofia para Crianças.
O que é a Filosofia para Crianças
Lipman desenvolveu seu Programa de Filosofia para Crianças com o objetivo de estimular o desenvolvimento das habilidades cognitivas dos alunos para que adquiram um “pensar excelente”, ou um “pensamento de ordem superior”( A esse respeito, ver