Professores ou idiotas da objetividade

INTRODUÇÃO
No dia 26 de fevereiro de 2010, a Academia Brasileira de Letras promoveu uma inusitada homenagem. Conforme matéria publicada no mesmo dia no site do jornal O Globo, a instituição condecorou o técnico de futebol Joel Natalino Santana com a medalha comemorativa de seu centenário, que traz entalhadas as feições de Machado de Assis, um dos mais ilustres escritores da língua portuguesa. “Sou chamado de professor por jogadores, mas lá (na ABL) sou aluno”, conta Santana ao repórter. Treinadores de futebol acrescentam argumentos de autoridade ao discurso sobre o jogo. Este trabalho pretende compreender o papel do técnico de futebol como interlocutor do futebol e sua representação midiática, investigando a legitimidade de especialista que se atribui a essa função.
A reportagem em questão não revela o porquê da deferência, que provavelmente tinha relação com o fato de o Botafogo, treinado por Santana, alcançar um título, depois de ser goleado por seis a zero pelo Vasco, no primeiro clássico do ano. Naquela semana, Santana havia vencido a Taça Guanabara, primeiro turno do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, que conquistaria dias depois pela oitava vez na carreira. Além de ser recordista em títulos estaduais, Joel é, como se costuma dizer, uma “figura”. Os intelectuais talvez tenham levado em consideração a simpatia e o carisma do treinador, que também seria eleito Carioca do Ano pela revista Veja, em 2010.
Ser o “carioca do ano” certamente implica dispor de algumas qualidades que, grosso modo, são atribuídas ao gentílico. A compositora Adriana Calcanhotto reúne alguns desses estereótipos na canção “Cariocas”. Os adjetivos “esperto”, “bacana” e “sacana”, que os versos de Calcanhotto e diversas outras representações midiáticas relacionam aos cariocas, são claramente identificáveis em Joel Santana.
Seja em português ou inglês, diante dos microfones, o técnico não parece capaz de seguir rigorosamente as regras de gramática, e seus colegas que