Professor
61
a linguagem dos fenômenos inconscientes
Isabel Mainetti de Vilutis,1 São Paulo
Resumo: Partindo do relato da sua experiência pessoal como analista estrangeira, a autora tece algumas considerações sobre a dificuldade de tradução de expressões próprias da língua portuguesa falada no Brasil. Estabelece um paralelo com o trabalho de tradução do inconsciente e, ao mesmo tempo, remarca a diferença entre eles, decorrente da inexistência de uma correlação simbólica prévia e universal entre aquilo que o paciente fala e as significações inconscientes. Um percurso por alguns conceitos da obra de Sigmund Freud explicita a estreita relação existente entre linguagem e psicanálise desde a origem da teorização psicanalítica. Como conclusão, postula-se que não existem diferenças específicas que possam ser creditadas à língua portuguesa em um processo de análise. Palavras-chave: linguagem; tradução; estrangeiro; processo analítico.
Psyche é uma palavra grega e se concebe, na tradução alemã, como alma (seele). Tratamento psíquico significa, portanto, tratamento anímico. Assim, poder-se-ia pensar que o significado subjacente é: tratamento dos fenômenos psicológicos da vida anímica, mas não é esse o sentido dessas palavras. “Tratamento psíquico” quer dizer, antes, tratamento que parte da alma, tratamento – seja de perturbações anímicas ou físicas – por meios que atuam, em primeiro lugar e de maneira direta, sobre o que é anímico no ser humano. Um desses meios é sobretudo a palavra e as palavras são também a ferramenta essencial do tratamento anímico”. Freud, S. (1890/989)
O olhar estrangeiro Quando fui convidada a pensar sobre as peculiaridades da língua portuguesa e sua relação com a psicanálise varias questões me inquietaram devido a vastidão do tema. Evidentemente, a primeira delas foi delimitar esta abordagem ao uso da língua portuguesa nas análises