Produção comunal x produção capitalista
Produção comunal X Produção capitalista
A constituição de unidades familiares camponesas processou-se aparentemente em articulação orgânica com a economia da Colônia, do Império e do Estado Nacional ao longo dos séculos, com as comunidades negras tendo-se constituído como produtoras de excedentes – principalmente arroz – comercializados via rio Ribeira de Iguape, a partir de entrepostos comerciais instalados em suas margens, que captavam essa oferta pulverizada, revendiam aos vapores que transitavam pelo rio, sendo essa produção comercializada, através do porto de Iguape, com outras províncias.
Nas comunidades negras, as economias não deixam de ser de subsistência, pelo fato de comercializar excedentes de produção, pois se articula de forma coerente com a produção voltada para o consumo da unidade familiar – associa-se a uma forma de ocupação territorial distinta daquela operada pela sociedade colonial/nacional, esta (sociedade colonial) caracterizada pela transição da atividade mineradora ao cultivo do arroz e da cana-de-açúcar (ciclos econômicos).
A tônica dessa territorialidade (relação com a terra) é a construção de uma relação específica com a terra, na qual esta é concebida e utilizada, como já notara Soares “estritamente enquanto valor-de-uso, meio-de-produção de matéria-prima, jamais como valor-de-troca (monetária, seu objetivo é o lucro), quer dizer, jamais enquanto bem passível de comercialização”.
Para o autor, essa seria a “marca registrada” do fenômeno camponês, expressiva de sua lógica econômica singular. Economias tradicionais não são inteligíveis se tomamos em conta, em sua interpretação, apenas aqueles conceitos e categorias da teoria econômica aplicada a economias capitalistas nacionais de mercado. A premissa de que o lucro líquido do empreendimento econômico necessita ser maior ou igual aos juros sobre o capital total invertido (capital imobilizado mais capital de giro), calculados a partir da taxa de juros