prodigios
O Observer de Fayetteville de 19 de maio de 1862 trazia uma carta incomum de seu correspondente Long Grabs, acampado em Camp Mangum:
O preto cego Tom tem se apresentado aqui com casa cheia. E sem dúvida um milagre.
Parece com qualquer garoto preto de treze anos e é completamente cego e idiota em tudo, menos no que diz respeito à música, linguagem, imitação e talvez à memória. Nunca estudou música ou recebeu qualquer tipo de educação. Aprendeu a tocar piano ouvindo os outros, aprende letras e melodias de ouvido e é capaz de tocar qualquer coisa na primeira tentativa tão bem quanto o melhor dos instrumentistas. Um de seus feitos mais notáveis foi a execução de três peças musicais de uma só vez. Tocou ―Fisher‘s hornpipe‖ com uma mão, ―Yankee doodle‖ com a outra e cantou ―Dixie‖ ao mesmo tempo. Também tocou uma música de costas para o piano e com as mãos invertidas. Toca muitas composições próprias — uma delas, ―Battle of Manassas‖, pode ser classificada de pitoresca e sublime, verdadeira obra de um gênio musical cego, apoiado apenas em seus próprios esforços. Este pobre menino cego tem a infelicidade de possuir muito pouco da natureza humana; parece agir inconscientemente quando é levado a se apresentar, e sua mente lembra um receptáculo vazio onde a natureza guarda suas jóias para convocá-las ao seu bel-prazer. Conhecemos mais do Cego Tom lendo Edouard Séguin, o médico francês cujo livro de 1866, Idiocy and its treatment by the psychological method, continha muitas descrições perspicazes de indivíduos mais tarde denominados idiots savants; e um descendente intelecutal de Séguin, Darold Treffert, cujo livro Extraordinary people: understanding ―idiot savants‖ foi publicado em 1989. Nascido praticamente cego, décimo quarto filho de um escravo, vendido a um coronel Bethune, Tom era desde a infância, escreve Treffert,
―fascinado por sons de toda espécie — chuva no telhado, a debulha do milho, mas acima de tudo música —,