Processos de letramentos na infancia
Cecília Goulart*
Começando a conversa Experiências vividas numa viagem de avião podem nos colocar questões interessantes em relação à vida, de um modo geral, e, por que não, em relação a processos de aprendizagem, levando-nos à reflexão sobre processos de ensino. Foi o que aconteceu comigo em viagem recente. Em certo momento, os passageiros foram avisados de que estávamos atravessando um espaço de muitas nuvens e que poderia haver turbulências. Lá fora o branco-algodão dominava o cenário. Pus-me, então, a pensar no que é uma nuvem para quem a olha em terra firme e para quem se vê no interior de uma nuvem, dentro de um avião. Seria a nuvem aquela massa branca esfumaçada, sem contornos, vista de dentro do avião, ou seria aquela imagem desenhada e destacada no céu, com formatos ora regulares, ora irregulares, como quando olhamos para o céu? Seria a nuvem aquele desenho, aquela forma, ou aquele material que lhe dá consistência? O que é a nuvem para um físico? Para um astrônomo? Para um índio? Para uma criança? Para outra criança? Para um poeta? Na mesma viagem, muito próximos à chegada ao aeroporto, questões semelhantes me tomam, quando o avião sobrevoa uma região, com uma extensa plantação de árvores, à margem de um rio: como vemos as plantações da janela do avião? E como vemos as plantações em terra firme? Aqui a visão se inverte.
Do avião foi possível perceber contornos organizados geometricamente de muitos conjuntos de árvores de uma mesma espécie, arrumados em desenhos muito bem definidos. E a chegada a pé nesta plantação, como seria? Que visão teríamos da plantação, de sua extensão, de seus contornos? Veríamos as árvores individualmente, as distâncias entre elas, características de seus ramos, caule e folhas, o que não me era possível do avião. Veríamos o rio? Utilizo-me dessas imagens alegoricamente para refletir sobre o