problema
O problema do mal
Temos procurado familiarizar‐nos até agora com a principal ideia de Deus que emergiu na civilização ocidental — a ideia teísta de um ser perfeitamente bom, criador do mundo mas separado e independente do mesmo, omnipotente, omnisciente, eter‐ no e auto‐existente (Capítulo 1) — e examinámos algumas das principais tentativas de justificar a crença na existência do Deus teísta (capítulos 2 a 5). Nos capítulos 2 a 4 ponderámos os três principais argumentos a favor da existência de Deus (cosmológico, ontológico e do desígnio), argumentos que apelam a factos supostamente acessíveis a qualquer pessoa racional, religiosa ou não. E no Capítulo 5 examinámos a experiência religiosa e mística como uma fonte da crença em Deus e como justificação para a mesma. No Capítulo 6 considerámos o papel da fé na formação e sustentação das crenças religiosas, reflectindo no papel legítimo que as razões pragmáticas desempe‐ nham, por contraste com as razões conducentes à verdade, na justificação da crença religiosa. Também considerámos a importante questão de a crença em Deus poder ter ou não justificação racional como crença apropriadamente básica, sem que tenha justi‐ ficação em termos de indícios derivados de outras crenças. Chegou agora a altura de nos voltarmos para algumas das dificuldades que a crença teísta enfrenta — algumas das fontes que se pensa justificarem o ateísmo, a crença de que o Deus teísta não exis‐ te. A mais formidável destas dificuldades é o problema do mal. Há séculos que se sente que a existência de mal no mundo é um problema para o teísmo. Parece difícil acreditar que um mundo que contenha uma abundância de mal tão vasta como o nosso possa ser a criação e o objecto de controlo soberano por parte de um ser perfeitamente bom, omnipotente e omnisciente. Há séculos que o intelecto humano se confronta com este