pro dia nascer feliz
Parte final
O documentário cumpre com rigor a análise da realidade educacional brasileira e contextualiza nas dimensões públicas e privadas e ainda assume maior potencialidade se for visto não como um discurso pronto e acabado, mas como um alicerce para outras indagações, novas buscas, novos saberes. Ao mostrar um quadro discrepante entre a escola de elite e as escolas públicas, talvez, a partir dele, se possa pensar que a educação só funciona se for oportunizada para fomentar os sonhos ou a confirmação de superioridade social. A escola de elite parece funcionar melhor porque é um ponto de uma rede de proteção que funciona bem e “garante” ao aluno um futuro promissor. A escola pública só vai bem se permitir sonhar. Enquanto sinônimo de condenação social, os alunos, perspicazes, não se interessam por ela. Pressupõe-se que exista uma “sabotagem” educacional presente nas escolas destinadas aos populares. Na escola Santa Cruz, de São Paulo, onde a mensalidade beira os R$ 1.600 reais, são observadas as mesmas características com espaços de pichações, agressões, mal-estar com a escola, alunos sonolentos, desinteressados, repetentes. Pro dia nascer feliz. Análise do documentário 160 Revista de Educação, Ciência e Cultura | v. 17 | n. 2 | jul./dez. 2012 Num mesmo espaço público a escola se apresenta exatamente de acordo com os interesses de seus gestores e docentes e outra como pensam e são os alunos, característica de toda organização: o poder de fato é sempre uma média entre o que pretendem os administradores e o que permitem e desejam os administrados. No final do filme, Jardim faz uma breve retomada e conta um pouco sobre a trajetória dos atores destacados no documentário após alguns anos de trajetória: a aluna da escola pública abandona a poesia e os escritos, terminando como dobradora de roupas, enquanto a aluna do Santa Cruz figura como ingressante em engenharia na USP. Em sua entrevista nas gravações do documentário, a aluna tentar aludir uma preocupação com os