"SORÔCO, SUA MÃE, SUA FILHA Neste conto verifica-se, de chofre, duas características típicas de Guimarães Rosa. A primeira é a ortografia própria, que chega a se desviar muitas vezes do padrão gramatical. Nada justifica o acento na palavra “Sorôco”. Além disso, como em muitas personagens, o nome do protagonista carrega um significado oculto. A sonoridade da palavra lembra “ser oco”, ou seja, alguém que busca o desapego. É a condição para realizar o salto, a transcendência comum nos contos de Primeiras Estórias. Sorôco é comparado a Jó, personagem da Bíblia, por causa de seu sofrimento. Tem uma mãe e uma filha loucas. Passado e futuro. Ele, no meio. Ele, a terceira margem. A eternidade. E as proporções gigantescas dele lembram as personagens grotescas que são castigadas, eliminadas em outros contos. O padecimento a que foi submetido ao cuidar das duas, no entanto, redimiu-o. O conto inicia-se com o protagonista levando suas parentas para a estação de trem, em que pegarão um trem que as levará a um hospício em Barbacena. A cidade inteira está na estação, como numa espécie de apoio num momento difícil. É o que os segura de rirem das duas figuras tão despropositadas. Sem mais nem menos, a moça começa a cantar algo desatinado, sem sentido. Pelo menos, para as pessoas racionais, normais. A loucura pode ser entendida como algo divino, uma facilidade de contato com verdades superiores. O mais interessante é que repentinamente é a mãe de Sorôco que passa a cantar o mesmo da neta, acompanhando-a. É uma situação vexatória para Sorôco. Mas há algo de mistério também. As duas partem, embaladas pela cantiga. Deixam Sorôco. Este, pouco depois, inesperadamente começa a mesma cantiga, que passa a ser acompanhada por todos na estação, inclusive o narrador, que levam o protagonista para a sua verdadeira casa. Há aqui a idéia de que a solidariedade, a união ajuda a superar momentos difíceis. Ajuda também na