Primeira meditação
Percebi a algum tempo que desde o inicio de minha vida, eu recebi grande quantidade de falsas opiniões que eram consideradas verdadeiras e que depois de algum tempo me dei por conta de que eram duvidosas e incertas. Sendo assim, era preciso desfazer-me de todas essas opiniões e teria que começar tudo de novo, desde os fundamentos, se eu quisesse estabelecer algo firma e constante nas ciências.
Portanto, agora me aplicarei a destruir todas minhas antigas opiniões. Para isso não será preciso analisá-las uma a uma, é preciso apenas derrubar o que todas têm em comum e o que de todas é o alicerce principal.
Tudo o que recebi até o presente de mais verdadeiro e seguro, aprendi dos sentidos ou pelos sentidos, porém, em algumas situações, percebi que tais sentidos eram enganadores, portanto, não posso mais me deixar enganar por eles. Contudo, mesmo sabendo que os sentidos nos enganam às vezes, há certas situações em que não se pode razoavelmente duvidar deles, como por exemplo: eu estou aqui, sentado perto do fogo, vestido com um roupão, com este papel entre as mãos, e outras coisas dessa natureza. E como é que eu posso negar que estas mãos e este corpo sejam meus? Seria loucura negar isso. * Entretanto, devem concordar que em sonho mesmo homens sadios costumam representar certas coisas pouquíssimo verossímeis. E, ainda que em alguns desses sonhos saiba que estou sonhando, às vezes sou enganado por tais ilusões. Pensando bem sobre isso, não consigo distinguir marcas que possam separar claramente a vigília do sonho. * * Vamos supor agora que estejamos dormindo e todo nosso corpo e o que sentimos através dele não passa de ilusão. Ainda assim, é preciso confessar que esse corpo e esses sentidos ilusórios devem ter sido espelhados em um corpo real com sentidos reais. Todavia, há que confessar, pelo menos, que as coisas que nos são representadas no sono são como quadros e pinturas, que só podem ser formadas á semelhança de algo real e