Preconceito Linguístico de Marcos Bagno
No livro "Preconceito Linguístico", lançado em 1999, Marcos Bagno desconstrói oito mitos arraigados à cultura brasileira sobre a língua do Brasil. Apresentaremos todos os oito mitos. No entanto, sugiro a leitura, na íntegra, da obra.
PRIMEIRAS PALAVRAS
Você sabe o que é um igapó? Na Amazônia, igapó é um trecho de mata inundada, uma grande poça de água estagnada às margens de um rio, sobretudo depois da cheia. Parece-me uma boa imagem para a gramática normativa. Enquanto alíngua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um terreno alagadiço, à margem da língua. Enquanto a água do rio/língua, por estar em movimento, se renova incessantemente, a água do igapó/gramática normativa envelhece e só se renovará quando vier a próxima cheia... (p. 20)
A mitologia do preconceito linguístico
Mito n° 1: “O português do Brasil apresenta uma unidade surpreendente”
Na verdade, como costumo dizer, o que habitualmente chamamos de português é um grande “balaio de gatos”, onde há gatos dos mais diversos tipos: machos, fêmeas, brancos, pretos, malhados, grandes, pequenos, adultos, idosos, recém-nascidos, gordos, magros, bem-nutridos, famintos etc. Cada um desses “gatos” é uma variedade do português brasileiro, com sua gramática específica, coerente, lógica e funcional. (p. 32)
O reconhecimento daexistência de muitas variedades linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada em sala de aula é, em muitas situações, uma verdadeira “língua estrangeira” para o aluno que chega à escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no quotidiano é uma variedade estigmatizada de português brasileiro. (p. 32)
Mito n° 2: “Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português”
O Brasil hoje não é europeu, africano, asiático,