Por uma outra globalização Milton Santos
Milton Santos
07/2013
UMA GLOBALIZAÇÃO PERVERSA
No final do século XX o mundo torna-se cada vez mais unificado, devido à evolução das técnicas que viabilizam a ação humana mundializada, Impõe-se a sociedade uma globalização perversa, há emergência da tirania do dinheiro e da informação. A competitividade é a fonte de novos totalitarismos.
Há um retrocesso na noção de bem público, encolhendo-se as funções sociais e políticas. Há ampliação da pobreza e do papel político das empresas na regulação da vida social.
A tirania da informação e do dinheiro e o atual sistema ideológico.
Fatores construtivos da globalização perversa: forma da informação e emergência do dinheiro em estado puro.
A informação tem papel despótico e são apropriadas e manipuladas por alguns Estados e por algumas empresas aprofundando o processo de criação de desigualdades. Estamos diante de um processo de “encantamento do mundo” em que o discurso e a retórica são o princípio e o fim. A informação tem dois rostos: um que busca instruir e outro que busca convencer. Produz-se no mundo de hoje fábulas (ideia de aldeia global) e mitos. As verdadeiras aldeias globais tornam mais fáceis à comunicação com quem está longe do que com o vizinho.
Fala-se em humanidade desterritorializada. As fronteiras mudaram de significação, mas nunca estiveram tão vivas.
A humanidade desterritorializada é um mito. Vivemos num mundo de fábula inclusive quando comparamos a riqueza entre as nações pelo PIB, que é apenas um nome fantasia que poderíamos chamar de produto global.
A “morte do Estado” que deveria melhorar a vida dos homens e saúde das empresas na verdade beneficia um número mínimo de empresas e aumenta a desigualdade entre os indivíduos.
A técnica apresenta-se ao homem como um mistério e uma banalidade, uma necessidade universal em que os homens acabam se rendendo sem buscar entendê-la.