Política de terra: o veto dos barões
CARVALHO, José Murilo de. A política de terras: o veto dos barões. In: A construção da ordem: a política imperial. 4 ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2003. p. 331-354.
Vários avanços têm sido obtidos nos últimos anos com novas e sugestivas interpretações da história do Brasil imperial. Com frequência surgem problemáticas diferentes e, a partir delas, a percepção de fatores que até então tinham pouco interesse aos historiadores. José Murilo de Carvalho é um bom exemplo de historiador que quebra paradigmas estabelecidos e propõe mudanças na forma de ver nosso passado. Em seu livro sobre a política imperial, publicado em 1988, Carvalho busca entender as relações que se estabelecem entre a coroa e a elite política e dessa com os proprietários rurais. Seguindo este objetivo o capítulo do livro dedicado a Lei de Terras entra como oposição a lei da abolição: ao contrário dessa, a Lei de 1850 demonstra o poder dos proprietários rurais de diferentes localidades frente aos senhores fluminenses, donos de latifúndios de café para a exportação e que detinham certa predominância na elite política do Império. A conclusão a qual Carvalho chega é que os proprietários de terras mostraram grande capacidade de influenciar decisões ao vetarem a efetiva implementação da Lei de Terras. O caminho percorrido por José Murilo de Carvalho é bastante inovador e interessante nesse sentido. Voltando aos Anais da Câmera o autor demonstra como o interesse dos grandes produtores do estado do Rio de Janeiro formou a base de sustentação do projeto da lei. Tendo o objetivo fundamental de trazer imigrantes na tentativa de substituir o decadente trabalho escravocrata, integrantes dessa elite desenvolveram toda uma teoria, baseada nos trabalhos de Wakefield, de como fazer a passagem do trabalho escravo para o assalariado através de mudanças na forma de organização da terra: seria necessário delimita-la e registrá-la a partir do pagamento de um imposto.