Poemas
Tentando dormir, tropecei em meu sono e caí no buraco negro da mente.
No susto, não consegui achar o caminho da volta, pois, no escuro tudo se voltava, de repente, num turbilhão de cenas e pensamentos difusos, confusos; era eu….não era mais, um animal….um cão?
Era tudo ou só momentos de cenas em confusão, talvez vividas ou sonhadas?
Sem ordem, sem senso lógico nem cronológico.
Sem seguimentos, sem nomes,ou com muitos, em gritos, chamados…espantos.
Risos de alegrias, e longos silêncios, soluços, de tristezas.
O belo…sem belezas.
Em cenários sucessivos, alguns quase mortos outros muito vivos, fui herói, fui bandido, fui aclamado fui banido, fui amado, fui traído.
Mas, traidor, também fui e fui perdido, num mar de ondas rebeldes e negras, sem me conhecer e fui caindo, ainda mais fundo, no negro mundo, sem saber.
Victor Motta
Porque é que um sono agita
Em vez de repousar
O que em minha alma habita
E a faz não descansar?
Que externa sonolência,
Que absurda confusão,
Me oprime sem violência
Me faz ver sem visão?
Entre o que vivo e a vida,
Entre quem estou e sou,
Durmo numa descida,
Descida em que não vou.
E, num infiel regresso
Ao que já era bruma,
Sonolento me apresso
Para coisa nenhuma.
Fernando Pessoa
Entre o Sono e Sonho
Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"