Poemas moraes
"Operário em Construção" é um dos textos mais comoventes que já li, ele reúne um tom panfletário a uma incrível leveza e ternura...a intertextualidade com o trecho bíblico tem um toque revolucionário ao fazer a analogia patrão-diabo / Deus- Operário. Uma obra de arte!
Allegro
Sente como vibra
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida E as sombras se casam
Nos raios noturnos
Da lua perdida.
Soneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim de um calmo amor prestante
E te amo além, presente da saudade
Amo-te enfim com grande liberdade
Dentro da eternidade a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia, no teu corpo, de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Soneto de contrição
Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto. Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa. Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma... E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.
Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento,
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar