poemas bacanas
E aqui estou, cantando.
Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa.
Venho de longe e vou para longe: mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram. Também procurei no céu a indicação de uma trajetória, mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.
Pois aqui estou, cantando.
Se eu nem sei onde estou, como posso esperar que algum ouvido me escute?
Ah! Se eu nem sei quem sou, como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
CANÇÃO
Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar; depois abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre dos meus dedos colore as areias desertas
O vento vem vindo de longe, a noite se curva de frio; debaixo da água vai morrendo meu sonho dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso, para fazer com que o mar cresça, e o meu navio chegue ao fundo e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito: praia lisa, águas ordenadas, meus olhos secos como pedras e as minhas duas mãos quebradas.
CANÇÃO
Nunca eu tivera querido dizer palavra tão louca: bateu-me o vento na boca, e depois no teu ouvido.
Levou somente palavra, deixou ficar o sentido.
O sentido está guardado no rosto com que te miro, neste perdido suspiro que te segue alucinado, no meu sorriso suspenso como um beijo malogrado.
Nunca ninguém viu ninguém que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste, e eu sei que ela se vê bem...
Só se aquele mesmo vento fechou os teus olhos também...
CANÇÃO
No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram
meu