PODER NÔMADE E RESISTÊNCIA CULTURAL
O termo que melhor descreve a condição social de hoje é liquidação. Os outrora inquestionáveis marcos de estabilidade, como Deus ou a natureza, caíram no buraco negro do ceticismo, dissolvendo a identificação fixa de sujeito ou objeto.
Movimentar-se no tanque de poder líquido não precisa ser necessariamente um ato de aquiescência e cumplicidade. A despeito de sua situação difícil, o ativista político e o ativista cultural (anacronicamente conhecido como artista) ainda podem produzir distúrbios. Embora tal movimento possa assemelhar-se mais aos gestos de quem se afoga, e não esteja claro exatamente o que esta sendo perturbado, nesta situação o lance do dado pós-moderno favorece o ato de distúrbio. Para saber o que subverter seria preciso que as forças de opressão fossem estáveis e pudessem ser identificadas e separadas-uma hipótese demasiado fantástica em uma era de dialéticas em ruínas. Saber como subverter pressupõe uma compreensão da oposição que existe no domínio da certeza, ou (pelo menos) no da alta probabilidade.
A velocidade com que as estratégias de subversão são cooptadas indica que a adaptabilidade do poder é muitas vezes subestimada. O modelo arcaico de poder nômade, outrora um meio para formar um império instável, evoluiu para um meio sustentável de dominação. Em um estado de duplo sentido, a sociedade contemporânea de nômades se torna tanto um campo difuso de poder sem localização quanto uma maquina de ver que aparece como espetáculo. A primeira prerrogativa abre caminho ao aparecimento da economia global, enquanto a segunda age como uma guarnição militar em vários territórios, mantendo a ordem da mercadoria com uma ideologia especifica a cada área.
Embora tanto o campo de poder difuso quanto a máquina de ver estejam integrados através da tecnologia, e sejam peças indispensáveis ao império global, foi o campo de poder difuso o que realizou plenamente o mito cita. A passagem de um espaço arcaico para uma rede