Plutarco "como ouvir"
Prefácio * Silêncio dos sábios e Música das esferas
"Os homens não gostam de vos admirar, eles querem agradar; procuram menos ser instruídos, e mesmo divertir-se, do que serem apreciados e aplaudidos." Este julgamento de La Bruyère1 parece provir diretamente do Como ouvir, de Plutarco. Com efeito, se aprender a falar é o primeiro passo, supondo que o estudo das palavras se conclui do das idéias, aprender a ouvir deve ser a segunda preocupação do aprendiz de filosofia, e com [p.6] toda a certeza uma das questões centrais da educação, da paidéia. Plutarco, no seu curto ensaio datado do ano 100 d.C., quis remediar esse vazio constitutivo da história de uma retórica do ouvir. Pois a arte de ouvir, nas teorias ocidentais sobre a linguagem, é própria do extremo isolamento. A cultura do ouvir supõe a aliança da eloqüência e da filosofia. Pois a paidéia auditiva seria uma reles auxiliar da arte oratória se não tivesse a intenção de servir aos desejos secretos da meditação filosófica. Ao ouvir, aprendemos mais a pensar do que a falar, pois esta audição é feita da própria substância das palavras, tendo a retórica, por assim dizer, apenas uma função reguladora e exterior. Deste modo, a primeira dificuldade que compete ao professor resolver é fazer o discípulo ávido de frases e que sucumbe à vertigem das palavras compreender a necessidade formadora do silêncio. É que a propedêutica per aures não está isenta de perigo: a linguagem é semelhante à fita sonora, que dá voz às coisas ausentes e lhes confere um acres-[p.7]cimo de presença, de sorte que o ouvido não passa de um lugar de fascinação, em cuja oficina o espírito encantado fabrica simulacros, pela meditação de palavras-miragens. Criar para os "sentidos interiores", animar com cor, sabor, odor, e prover com uma carnação humana quase real um teatro de palavras cuja fecundidade rivalize vitoriosamente com a lembrança dos