Pintando e Bordando
Eu era uma menina bem miudinha, alegre, estudiosa e caprichosa.
Quinta filha de uma família humilde e unida de seis filhos. Sabia, desde cedo, que minha vocação seria para as artes. Desenhava bem e me interessava por teatro, dança, música e poesia, adorava escrever.
Meu melhor presente, na infância, fora dado por meu pai quando eu ainda cursava a 4ª série do ensino fundamental: um lindo estojo escolar com 36 lápis de cor, que conservei até o final do ensino médio.
Desenhar era um prazer, poesias brotavam quase que automaticamente. Teatro só na Igreja, onde, aliás, sempre tive oportunidade de demonstrar minha pretensa arte.
A Igreja Católica sempre fez parte da minha vida. Lá, atuei, dancei, escrevi, desenhei. Em outras palavras: pintei e bordei. Bastava algum evento, ou festa na paróquia e alguém logo se lembrava: Convoca a Luana, ela vai aceitar.E eu, toda feliz, aceitava. Qual é, pois, a maior felicidade do artista? Mostrar!
Em 1980, eu já com 10 anos de idade, minha madrinha, não a de batismo, porque esta havia me visitado uma única vez depois de meu batizado e desaparecido, mas, a minha madrinha de representação, resolveu me pagar aulas de balé.
Isso mesmo: madrinha de representação. Essa figura que era tão comum na época em que eu fui batizada e que hoje caiu em desuso. Era alguém, geralmente, mais jovem, que pudesse representar a madrinha de batismo no caso desta faltar. Apesar de não se usar mais, quando mais tarde batizei minha filha, fiz questão de escolher, entre meus sobrinhos, não só uma madrinha, mas, um casalzinho para serem os padrinhos de representação dela. acho muito importante.
Pois bem, as aulas de balé pra mim eram a realização de um sonho. Agarrei com todas as minhas forças. Fácil, não era, além de estar ingressando tardiamente em relação às outras meninas, tinha um nível socioeconômico muito inferior ao daquelas, então, minhas colegas de turma. Era assídua e interessada. Logo a dona da academia, uma mulher fina,