Pierre Bordieu
Pierre Bourdieu no artigo A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura*
Escritas em meados da década de 1960, essas linhas do sociólogo francês Pierre Bourdieu - que tanto contribuiu para uma crítica sociológica do sistema ecucacional moderno - fustigam a instituição escolar em seu papel de reduzir desigualdades sociais. Ele questiona a função esperada da educação de ser um canal efetivo de ascensão social às crianças, independentemente de seu meio social e de sua posição de classe.
A releitura desse texto, embora não traga mais o sabor de novidade e de ruptura que teve em seus leitores na época, ainda é capaz de surpreender. Essa análise continua a chamar atenção aos muitos mecanismos sociais, sobretudo invisíveis, que operam para produzir e reproduzir a distância que há entre democracia formal e democracia substantiva.
Nada melhor para abordar essa problemática do que examinar o papel da escola. A instituição inscrita no coração da democracia moderna acaba por engendrar o seu contrário; nas palavras do próprio Bourdieu, ela acaba por reforçar o privilégio cultural. Mas, no início do século XIX, a França republicana não se vingara do seu passado feudal justamente ao deslocar para um plano secundário as heranças e ao pretender formar cidadãos? A educação pública e gratuita não visa justamente realçar o valor das capacidades adquiridas, independente de cor, sexo ou etnia?
Essas reflexões do autor merecem ser revisitadas no momento brasileiro atual, de mudança de governo, quando compreensivelmente se reacendem esperanças de acertar o passo na construção de um país menos injusto. Sobretudo, menos concentrador de oportunidades. Volta-se a celebrar as virtudes da educação como instrumento de mudança, geradora de efeitos a longo prazo, que ultrapassam os ganhos imediatos que costumam nortear decisões políticas feitas de olho no calendário eleitoral. Não é a toa que, com