PI Rio
O trabalho que pretendo desenvolver refere-se à análise da construção, por parte dos trabalhadores que se deslocaram do interior da região Nordeste do Brasil para o Rio de Janeiro, de outras referências sociais, sobretudo pelo investimento em comunidade de condição, isto é, associação de comuns que, sob pertencimentos convergentes na demonstração de singularidade da situação de vida, investem em redefinições sociais. Trata-se, assim, de uma investigação e reflexão sobre os investimentos dos trabalhadores que, em situações e redes sociais específicas, ao passarem por processos de descampesinação, empenharam-se na reafirmação de estilos de sociabilidade e outras formas de pertencimento comunitário. Refiro-me aos investimentos empreendidos no reconhecimento e na conversão de atributos negativos em positividades sociais, na auto-reafirmação como paraíbas, mesmo que essa seja uma categorização genérica, que secundariza as distinções por local ou estado de origem, mas ressalta a definição identitária da condição de desenraizado, que deve então socialmente se assentar ou criar raízes. Empreendimentos que, por sua vez, se contrapõem aos olhares externos que atribuem inúmeras significações providas de discriminações, referindo-se à categoria paraíba não a todo e qualquer migrante nordestino, mas, predominantemente, aos trabalhadores que, no Rio de Janeiro, se afiliaram às ocupações da construção civil, de prestação de serviço em portarias de edifícios, restaurantes e no serviço doméstico. Na interconexão de diferentes universos sociais, como a cultura local e a cultura global, no sentido proposto por Canclini (2004) e Hannerz (1998), há uma heterogeneidade de experiências que confere aos paraíbas um certo cosmopolitismo, por mais contraditório que pareça e por mais esforços que haja em classificá-los, invariavelmente, sob os estigmas de caipiras, como é o sentido intrínseco do uso e do abuso do próprio termo