peça
Assim como toda produção textual a famosa batalha de Covadonga, não está isenta de influências interpretativas, confirmando a importância do contexto na qual o documento foi produzido. Ao contrário do posicionamento de algumas correntes historiográficas estes dois documentos (relatos) demonstram o quanto o contexto enraíza-se e busca direcionar o leitor a um posicionamento parcial com relação ao fato narrado.
No primeiro documento, de origem cristã, notamos de partida que a própria dimensão textual é bastante significativa (comparando-se ao outro documento), apresentando detalhes de forma bastante pormenorizada, o que pode de certa forma representar uma preocupação para com o poder de convencimento do relato e a importância dada ao tema por parte dos cristãos.
A princípio, podemos dividir o relato cristão em três partes: a primeira constata-se o uso da descrição negativa das características dos muçulmanos. No primeiro parágrafo, o uso do artifício da esperteza por parte do prefeito de Astúrias, Munuza, quando “enviou Pelágio a Córdova com o pretexto de uma legação, mas na verdade devido a interesse por sua irmã”.1
Ao retornar e tomar ciência da verdadeira intenção de Munuza, Pelágio obviamente recusa-se a aceitar tal enlace inciando sua saga rumo ao confronto com o exército dos ismaelitas. Demonstrando em contraste as características que o fizeram rei, ou seja, a extrema habilidade com que empreendeu fuga arrastando grande número de “fiéis” para a montanha onde foi eleito príncipe.
Nesta segunda parte, notamos a utilização do subterfúgio do exagero, ou seja, ao descrever a quantidade e magnitude do exército muçulmano (187.000 soldados) recrutados em toda Espanha, face ao número bem mais modesto do “exército” de Pelágio. E ainda é apresentado o fato de que o poderoso exército dos godos não foi suficiente para conter o ímpeto expansionista dos ismaelitas, e quem diria um número reduzido de cristãos encurralados na montanha a espera