Peça de teatro sobre o livro Santo Inquérito
1859 palavras
8 páginas
Padre Bernardo: Aqui estamos, senhores, para dar início ao processo. Os que invocam os direitos do homem acabam por negar os direitos da fé e os direitos de Deus, esquecendo-se de que aqueles que trazem em si a verdade tem o dever sagrado de estendê-la a todos, eliminando os que querem subverte-la, pois quem tem o direito de mandar tem também o direito de punir. É muito fácil apresentar esta moça como um anjo de candura e a nós como bestas sanguinárias. Nós que tudo fizemos para salvá-la, para arrancar o Demônio de seu corpo. E se não conseguimos, se ela não quis separar-se dele, de Satanás, temos ou não o direito de castiga-la? Devemos deixar que continue a propagar heresias, perturbando a ordem pública e semeando os germes da anarquia, minando os alicerces da civilização que construímos, a civilização cristã? Não vamos esquecer que, se as heresias triunfassem, seriamos todos varridos! Todos! Eles não teriam conosco a piedade que reclamam de nós! E é a piedade que os move a abrir este inquérito contra ela e a indiciá-la. Apresentaremos inúmeras provas que temos contra a acusada. Mas uma é evidente, está a vista de todos: ela está nua!
Branca: (Desce até o primeiro plano.) Não é verdade!
Padre Bernardo: Desavergonhadamente nua!
Branca: Vejam, senhores, vejam que não é verdade! Trago as minhas roupas, como todo o mundo. Ele é que não as enxerga! Padre sai, horrorizado.
Branca: Meu Deus, que hei de fazer para que vejam que estou vestida? É verdade que uma vez – numa noite de muito calor – eu fui banhar-me no rio... e estava. Mas foi uma vez. Uma vez somente e ninguém viu, nem mesmo as guriatãs que dormiam no alto dos jeribás! Será por isso que eles dizem que eu ofendi gravemente a Deus? Ora, o senhor Deus e os senhores santos têm mais o que fazer que espiar moças tomando banho altas horas da noite. Não, não é só por isso que eles me perseguem e me torturam. Eu não entendo... Eles não dizem... só acusam, acusam! E