PESQUISA em EDUCAÇÃO: QUESTÕES DE TEORIA E DE MÉTODO
Paulo, n. 6, p.68-96, 1992.
A maquinaria escolar
Julia Varela
Fernando Alvarez-Uria universalidade e a pretendida eternidade da Escola são pouco mais do que uma ilusão. Os poderosos buscam em épocas remotas e em civilizações prestigiosas especialmente na Grécia e na Roma clássicas - a origem das novas instituições que constituem os pilares de sua posição socialmente hegemônica. Desta forma procuram ocultar as funções que as instituições escolares cumprem na nova configuração social, ao mesmo tempo que mascaram seu próprio caráter adventício na cena sócio-política.
Este hábil estratagema serve para dotar tais instituições de um caráter inexpugnável, já que são naturalizadas, ao mesmo tempo que a ordem burguesa ou pós-burguesa se reveste de uma auréola de civilização. Em todo caso, se a Escola existiu sempre e por toda parte, não só está justificado que continue existindo, mas também que sua universalidade e eternidade a fazem tão natural como a vida mesma, convertendo, de rebote, seu questionamento em algo impensável ou antinatural. Isto explica por que as críticas mais ou menos radicais à instituição escolar são imediatamente identificadas com concepções quiméricas que levam ao caos e ao irracionalismo. Os escassos estudos que procuram analisar quais são as funções sociais cumpridas pelas instituições escolares são ainda praticamente irrelevantes frente a histórias da educação e a todo um enxame de tratados pedagógicos que contribuem para alimentar a rentável ficção da condição natural da Escola.
A
Aqui se procurará mostrar que a escola primária, enquanto forma de socialização privilegiada e lugar de passagem obrigatória para as crianças das classes populares, é uma instituição recente cujas bases administrativas e legislativas contam com pouco mais do que um século de existência.1 De fato, a escola pública, gratuita e obrigatória foi instituída por