percepção do corpo
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A percepção do corpo cênico em Klauss Vianna e Merleau-Ponty
Júnia César Pedroso (UNESP)
GT: Pesquisa em dança no Brasil: processos e investigações
Palavras Chaves: Dança, teatro, corpo, percepção
“A dança se faz não apenas dançando, mas também pensando e sentindo: dançar é estar inteiro.”
(VIANNA,1990:25). Esta afirmação cabe tanto para o bailarino quanto para o ator, aqui chamados de
“artistas cênicos”.Para Klauss Vianna (1990:118), o trabalho corporal “toma o corpo como referência direta de nossa experiência mais profunda.”
Merleau-Ponty diferencia a percepção do corpo próprio da percepção de um objeto. Um objeto é visto de acordo com a face que se mostra, podendo ser observado de diversos ângulos, e nunca de todos ao mesmo tempo. Um objeto “em si” seria uma síntese das suas visões possíveis, de todos os ângulos e em todos os momentos. Mas o “corpo próprio” não pode ser observado como a um objeto, pois meu corpo
“existe comigo”. (MERLEAU-PONTY,1996:134).O corpo é o sujeito da sensação, da percepção, do pensamento, do sentimento.
Klauss Vianna afirma “penso que bem mais importante do que conhecer o espírito é saber que o corpo existe, está aqui comigo.”(VIANNA, 1990:126, grifo meu)
O corpo do artista cênico não pode ser “treinado” como uma instância isolada da consciência. Um treinamento físico sem a ênfase em uma consciência do movimento e das sensações corporais é apenas um exercício mecânico. Isto equivaleria a tratar o corpo como um objeto. Isto não é possível, pois meu corpo é meu ponto de vista sobre o mundo, o mediador entre a consciência e o mundo. Portanto, todo ato físico terá um sentido interior. Todo sentimento terá sua contrapartida física e vice-versa:
O homem concretamente considerado não é um psiquismo unido a um organismo, mas este vaivém da existência que ora se deixa ser corporal e ora se dirige aos atos pessoais. [...] um processo orgânico