pequisa qualitativa
1. Introdução
(Do livro “Pesquisa em ciências humanas e sociais”, de Antonio Chizzotti,
Cortez Editora, 2010, 11ª edição, p. 77-85)
Os postulados do espírito positivo inspiraram esta orientacão em pesquisas: a investigação da constância, da estabilidade, da ordem e das relações causais explicativas dos fenômenos, em todos os domínios das ciências da natureza. A procura da estrutura permanente e das leis invariáveis dos eventos naturais, assim como as conclusões preditíveis dos fatos observados, imprimiram uma orientação que subsiste como um marco da ciência moderna. O determinismo inecanicista de Laplace e o mecanicismo da física de Newton, que inspiraram o espírito positivo, fizeram supor que, conhecendo os impulsos e as posições dos corpos e de partículas materiais ínfimas, poder-se-ia, pelo cálculo, estabelecer predições infalíveis ou extrair as leis mecânicas da evolução anterior e futura. O desenvolvimento da física atômica, a teoria da relatividade, da termodinâmica e da cosmologia revelaram, porém, a complexidade imprevisível dos fenômenos, a mutabilidade, a fluência e a instabilidade dos eventos naturais. A matemática moderna, especialmente a geometria não-euclidiana e a teoria dos conjuntos demonstraram que certezas deduzidas de postulados evidentes e inquestionáveis decorriam da estrutura axiomática dos sistemas matemáticos. Tanto o desenvolvimento da física quanto o da matemática puseram em crise o edifício de certezas seguras do cientificismo, questionaram a infalibilidade das ciências, demonstraram a inviabilidade de previsões absolutas e recuperaram a validade da interpretação dos fenômenos. Nas ciências humanas e sociais, a hegemonia das pesquisas positivas, que privilegiavam a busca da estabilidade constante dos fenômenos humanos, a estrutura fixa das relações e a ordem permanente dos vínculos sociais, foi questionada pelas pesquisas que se empenharam em mostrar a complexidade e as contradições de