PENSAR É DIFERENTE DE PERCEBER
Ângelo Roman
Dias atrás, atravessando a Estação da Luz, em São Paulo, para pegar o metrô, ouvi a parte inicial do “Concerto para piano e orquestra nº1 em Si bemol menor”, de Tchaikovsky. Mesmo quem não gosta de música clássica com certeza vai gostar desse início. Tem na internet.
No salão da estação, uma senhora bem idosa, sorridente, sentada ao piano, executava a bela música. As pessoas foram chegando. Ela tocava com perfeição. Chamavam a atenção, além do emocionante desempenho no balé dos seus dedos sobre as teclas, um surrado gorro preto, unhas maltratadas, roupas bem humildes e uma sacola de mercado com roupas e bugigangas aos seus pés. Sobre o piano, uma pequena placa: “Sente e toque!”.
Ela tinha aparência de moradora de rua, ou de pessoa muito pobre. Quando se ouvia somente o belo som do piano, sentia-se o deslumbramento silencioso de todos. Depois, aplausos sinceros e emocionados. Alguns não conseguiram conter lágrimas. Muitos se perguntavam qual seria a história daquela afável mulher.
Essa bela experiência que vivenciei me levou a refletir sobre como a aparência nos leva a opiniões e decisões erradas. Para Saramago, a visão nos cega, pois prestamos atenção apenas às aparências, que nos afastam da essência.
Nestes tempos em que o consumo virou prazer e, pior, as pessoas procuram se identificar com os produtos, principalmente para projetar sua imagem (último modelo de telefone, carrão, etc.), que identificação a pianista tem com sua sacola de roupa velha, o gorro surrado, as unhas maltratadas? Pois é. Nada a ver com tocar piano.
A imagem é formada por quem vê, não por quem a projeta. Por exemplo, o sujeito se veste com uma roupa cara, penteia o cabelo, escova os dentes com uma pasta importada, dá uma última olhada no espelho e sai para arrasar corações femininos. Tem uma imagem excelente de si próprio. Acha-se irresistível. A mulherada, porém, quando o vê, desvia o olhar ou vai pra outro canto. A imagem que