Penhasco
E aqui estou novamente, sozinho. A solidão é a melhor companhia de um vagante. Inquieto, resolvi escrever.
Era final de tarde, chovia muito, mal podia enxergar os olhos da minha amada. Ela corria, flutuava, tocando a ponta das folhas tão suavemente como a brisa que soprava seus cabelos. O vestido prendia nas pedras, sujando as pontas, o que pouco lhe importava. Corremos pelas colinas como amantes fugitivos com muito sentimento querendo sair. Tentando chegar ao infinito. O final do penhasco era o ápice da verdade. Sentamos na beirada, fatigados. Toquei suas mãos, senti como se nosso sangue fosse distribuído por um corpo só. As almas saíram, voaram em nossa frente, se uniram. Éramos um. Ela sorria, ria, e tudo parecia igual. Estávamos conectados. Perdi-me em mim, e me encontrei nela. Sem nenhuma jura, sem nenhuma palavra, nos beijávamos como se fosse a ultima vez, encontrando o que faltava. Nos abraços, perdia meus braços. Os espectros dançavam a nossa frente. A noite caiu. Meus olhos estavam fixos. O oceano, o infinito, a nossa espera. Amor? Pouco. O que sentíamos ia além do compreensível. Ela levantou-se, puxou-me pela mão, e apenas com a troca de olhares soube o que fazer. Quando fiquei em pé, olhei pra frente e tudo que já havia acontecido não passava de memórias póstumas. Prendi a respiração. Segurei sua mão, e sem pensar